domingo, 25 de julho de 2010

ENTREVISTA COM O SOCIOLOGO SÉRGIO AMADEU: POR UM PAÍS CONECTADO


ENTREVISTA COM O SOCIOLOGO SÉRGIO AMADEU: POR UM PAÍS CONECTADO


Sérgio Amadeu - Por um País conectadoPor Gisele Brito gisele.brito@folhauniversal.com.br Cerca de 10% da população brasileira acima de 15 anos é analfabeta e outros 21% são analfabetos funcionais. Agora, além de enfrentar esse descalabro histórico, o País precisa alfabetizar a população para a linguagem digital. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 79% dos municípios brasileiros não têm acesso à internet de alta velocidade, tecnologia que garante acesso eficiente ao incalculável conteúdo disponível na rede mundial. O sociólogo Sérgio Amadeu, ex-membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil e um dos mais engajados e influentes militantes da democratização da internet, fala dos desafios de conectar todo o País.

1 – O que é inclusão digital? O termo inclusão digital surgiu como contraponto à exclusão social. A gente começou a perceber que se as pessoas ficassem de fora dessa nova “era” elas estariam sujeitas a diferenças cognitivas iguais as de uma pessoa que não foi alfabetizada. As principais atividades dos governos e das empresas estão indo para a rede, não é uma moda que vai passar.


2 – Então a exclusão digital se relaciona com a exclusão social? A exclusão digital é uma nova face da exclusão social. Porque a exclusão digital impede que as pessoas utilizem as tecnologias da inteligência. O Brasil ainda não encarou isso como uma política pública de Estado. Muitos municípios têm políticas de inclusão, outros não. O Governo Federal está dando um passo muito importante, fazendo com o Plano Nacional de Banda Larga e tentando criar uma rede para ligar todos os municípios do País. Isso não existe hoje. O que é um absurdo.


3 – O que é o Plano Nacional de Banda Larga e o que ele representa? Não existia nada que impedisse as operadoras privadas de telefonia de levar a banda larga para todos os lugares do Brasil. E por que não levaram? Porque eles não querem vender nada para as áreas pobres, para os municípios pequenos, onde as pessoas não têm dinheiro. Então o Governo decidiu que se ele próprio não entrasse nisso o País nunca iria se conectar em banda larga. A ideia é começar usando as fibras óticas das estatais e outras que não estão sendo utilizadas e uma empresa estatal que já existia para gerenciar isso, a Telebrás. Isso irritou as operadoras.


4 – Por quê? Porque elas querem que o Governo pague para que elas façam isso e ainda cobrariam o que elas cobram atualmente. E o Governo sabe que se a banda larga continuar com o preço praticado hoje não vai adiantar levar infraestrutura. Nós temos que usar a rede para diminuir a pobreza, não para manter a pobreza como ela está, portanto não dá para aceitar os preços pagos e a qualidade da internet rápida. O plano tem uma premissa importante que é gerar competição, com preço baixo e qualidade.


5 – O Governo criou incentivos para baratear os computadores. Resolve? Computador sem internet é máquina de escrever. O programa Computador Para Todos é muito importante. Mas o conhecimento está na rede. Fazer política de barateamento de hardware não adianta, porque, mesmo que tirássemos todos os impostos, a banda larga no Brasil ainda é uma das mais caras do mundo. É um absurdo o modelo de negócios que as empresas privadas implantaram. O Governo tem que levar a rede de alta velocidade que liga as regiões, os governos estaduais e municipais têm que incentivar lan houses, incentivar locais de acessos gratuitos, garantir redes sem fio gratuitas.


6 – As lan houses são vistas como algo negativo, não é? Hoje a lei trata as lan houses como casas de fliperama, um absurdo. Existe uma comissão que está avaliando isso na Câmera Federal e eu acredito que teremos uma mudança. O termo lan house foi usado para aquele pequeno empreendedor que vendeu o carro, comprou dez computadores e abriu um posto de conexão privada. Essa é uma atividade microempresarial, de risco, baixa lucratividade, sem incentivo do Governo.Nós precisamos ter financiamento para elas e mudar a legislação para que possam estar ao lado das escolas.


7 – As escolas já possuem pedagogias que assimilam o uso do computador? Há muita resistência. Tanto é que há uma concepção de aula-laboratório. Isso é uma coisa muita estranha. Laboratório é coisa de Física, Química. Essa é uma concepção do século passado, quando o computador era apenas uma máquina de cálculo. Muitos professores são treinados a usar uma série de ferramentas mas não são incitados a entender que na rede a não intermediação é o elemento-chave.


8 – Como assim? Hoje o aluno entra na internet, lê dois, três resumos e faz bem uma prova. Você não consegue mais diferenciar quem leu os resumos e quem leu o texto original. O problema disso é que o professor tem que reaprender os processos de aprendizagem. Os jovens e adultos têm uma quantidade de informações já processadas por outros que é crescente.


9 – Isso é ruim? Não. O ruim é a gente, como professor, não conseguir mostrar que é preciso gente capaz de mergulhar mais profundamente nos textos. Mostrar que conhecimento não é igual à informação. Conhecimento é aquela informação que a gente recebe e processa.


10 – Como a melhora nas condições de conexão com a rede pode influenciar outras áreas? Tudo muda. Veja uma coisa interessante: o teletrabalho. Hoje, nas atividades do setor de serviços, as pessoas vão para o escritório e ficam na maior parte do tempo trabalhando em rede. Se elas estiverem em casa ou no escritório não faz diferença alguma. E isso se faz com a internet rápida. Isso significa que, ao invés de ter 30 mil posições de call centers na cidade de São Paulo, eu posso empregar pessoas em cidades distintas com a única condição de que elas saibam operar o computador e tenham acesso a uma rede confiável e rápida.
Professor Wellington Silva
Desenvolvimento de Carreira
94609974

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